quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Dança das Cadeiras

Mudanças chacoalharam a direção criativa de várias marcas de luxos nos últimos m
Balmain sem Christophe Decarnin, Chloé sem Hannah MacGibbon, Dior sem John Galliano e até mesmo a grife John Galliano sem… John Galliano. Nos últimos 12 meses, grandes marcas europeias aumentaram o som e botaram os estilistas para participar de uma dança das cadeiras. Essa é uma brincadeira bastante atípica na indústria do luxo. Ao longo de quase toda a história da moda, o sucesso dos negócios era intrinsecamente atrelado à tradição. Dá para imaginar Christian Dior demitido da sua própria grife na década de 1940? Ainda hoje, esse conservadorismo pode ser encontrado em casos como o de Karl Lagerfeld - com um contrato vitalício na Chanel - e Pierre Cardin, que, aos 90 anos, é designer, dono e diretor executivo de sua grife homônima.

Agora, porém, a instabilidade parece ter tomado conta do mercado. Cada uma das recentes substituições teve a sua explicação, como aposentadorias, fracassos comerciais e surtos alcoolizados. Mas, por trás das reviravoltas, é possível encontrar uma lógica que talvez determine como será a carreira de estilista daqui em diante. Todas essas mudanças só foram possíveis porque, ao longo das últimas duas décadas, surgiu um novo modelo de gestão das marcas de luxo. O controle de muitas casas saiu das mãos de seus fundadores e foi parar em grandes conglomerados, como a LVMH (dona de marcas como Dior e Louis Vuitton) e PPR (Gucci e Yves Saint Laurent, entre outras). Nesse cenário, tudo vira business: as coleções, a postura dos designers, os processos criativos... "O estilista assume um papel descartável", afirma Mario Queiroz, diretor do Istituto Europeo di Design. "O mercado está perdendo a alma artística. Talvez por isso esse troca-troca aconteça com mais frequência."
Christopher Bailey, Marc Jacobs e John Galliano

Um dos primeiros sinais dessa nova postura veio no fim dos anos 1990, quando Dior e Louis Vuitton apostaram em Galliano e Marc Jacobs, respectivamente. Com o estilo arrojado, eles reformularam as maisons ao superar o imperativo da tradição. Em 2001, a Burberry deu um passo além e chamou o novato Christopher Bailey, cuja habilidade em marketing é ainda maior do que a de criar roupas. A estratégia deu tão certo que se espalhou. "Os grandes CEOs deixaram de se apoiar em estilistas de peso para encontrar oxigênio em novos profissionais", diz Queiroz. Assim, eles se sentem à vontade para mandar embora o mais renomado dos designers (Galliano que o diga). E também contratar quem bem entenderem, até mesmo os responsáveis pelo styling esquisitão de cantoras pop maluquinhas.

Esse jeito de administrar as marcas pode parecer cruel, mas é visto com bons olhos por alguns profissionais. "As movimentações trazem novo foco às grifes", afirma Hywel Davies, coordenador do curso de comunicação de moda da Central Saint Martins, na Inglaterra. Responsável pela formação de Stella McCartney, Phoebe Philo e Alexander McQueen, a instituição é o principal berço de candidatos a ocupar futuras cadeiras na indústria. "A moda não deveria ser sobre olhar para trás, e sim buscar novas propostas." Se a tendência pegar, é possível que, em um futuro próximo, não apenas as coleções saiam de moda mas também os estilistas...

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