segunda-feira, 4 de julho de 2011

EDUARDO POMBAL

Depois de 12 anos como assistente de Tufi Duek, o estilista assume sua cadeira, revigora a fórmula sexy das grifes e ganha afagos da primeira fila em sua quarta coleção, que chega às vitrines este mês

O começo com Tufi Duek

Pombal com a stylist Flavia Lafer, a atriz Isabel Wilker e a modelo Carolina Demarqui: "Sei me colocar".

Quando o estilista Eduardo Pombal foi entrevistado para trabalhar na Forum, ouviu de Tufi Duek, o então dono da grife, uma pergunta difícil. "Você sonha em assinar sua própria coleção?" Se a resposta fosse sim, Pombal certamente teria perdido a vaga. Na época, Tufi deixou claro que não aguentava mais treinar assistentes para em seguida perdê-los em busca de reconhecimento e holofotes. Ele procurava alguém leal. Na última São Paulo Fashion Week, Pombal viu sua resignação ser recompensada. Ao fim do desfile da Tufi Duek, que traz o prêt-à-porter feminino do grupo, foi ele, quase um desconhecido fora do meio, que surgiu na passarela para receber os aplausos. Braço direito de Tufi por 12 anos, conseguiu ser alçado ao panteão da moda nacional depois que o patrão vendeu seus negócios e o indicou para a imponente cadeira de diretor criativo. Há dois anos, esse paulista de Avaré, formado no Istituto Marangoni, em Milão, é a cara da Forum e da Tufi Duek. Mas só agora, na temporada de inverno, finalmente arrebatou o coração da primeira fila.

Criando novidades, já com DNA


Pombal é aplaudido depois do desfile inspirado na Escandinávia e a campanha da Forum, com Santoro e Adriana Lima: meio hot, meio cool.

"Pombal resgatou a silhueta elegante e geométrica, que fez a fama da Balenciaga nos anos 1960", diz Costanza Pascolato, a voz mais respeitada do pedaço. "Achei tudo muito bonito e refinado." Aos 45 anos, 1,70 m de altura, 9 kg mais magro, à base de dieta e academia, Eduardo é perito na arquitetura de peças que sublimam o corpo, tem um olho incrível para tecidos e está conectado com a modernidade. Integra uma geração de designers-executivos que coordenam a nova profissionalização da moda. Contratados por grupos empresariais, que de 2006 para cá compraram 20 etiquetas do mercado, eles precisam gerenciar os fluxos de produção, focar as vendas e alimentar o frenesi em torno das passarelas. "O cenário mudou. Planejamento é a palavra de ordem", diz Tubi Schiavetti, diretora de marketing da Tufi Duek, da Forum e da Triton, que pertencem ao conglomerado catarinense AMC Têxtil. No exterior, esse modelo é praxe. Calvin Klein, por exemplo, quando se aposentou, nomeou o brasileiro Francisco Costa, que já era o chefe de estilismo, para o seu cargo. O desafio de Costa foi o mesmo que Pombal enfrenta: dominar a engrenagem para criar algo novo, com frescor, mas seguindo o DNA traçado.


A história na Forum

A Forum nasceu em 1981 e fez um enorme sucesso com jeans anatômicos de lavagens manchadas. Hoje vende linhas femininas e masculinas de casualwear em 45 lojas (43 franquias) e mais de mil multimarcas do Brasil. Famosos como Rodrigo Santoro e Adriana Lima reforçam sua pegada urbana em grandes campanhas. Ao lado da Zoomp, criada por Renato Kherlakian, e da Ellus, de Nelson Alvarenga, a Forum virou símbolo de status no país. "Os anos 1980 foram gloriosos", lembra Kherlakian. "Fomos o trio de ferro da moda nacional seguindo apenas nosso feeling." Em 1998, veio a Tufi Duek, com uma proposta mais sofisticada, que agrada atrizes como Mariana Ximenes e Paola Oliveira. Sentar no lugar de Tufi, figura lendária nas rodas fashion e sociais, não é simples. Bonito, provocador, Tufi sempre disse que sua inspiração vem do seu dia a dia, das pessoas que o cercam, das mulheres lindas e glamourosas que encontra na noite e que poderia conquistar - ou ser conquistado. Para Pombal, as referências são outras. Casado há 14 anos com André Barp, que também é estilista e desenha vestidos de noiva, ele mora nos Jardins, o bairro do luxo em São Paulo, conhece a fundo o trabalho das maisons internacionais e adora programas culturais. Na intimidade, é romântico, ouve músicas francesas e ficou tocado com o documentário O Louco Amor de Yves Saint Laurent, sobre a relação de 50 anos entre o estilista e seu companheiro, o francês Pierre Bergé. "Sempre imagino se o André e eu vamos envelhecer juntos."

"Será que Tufi faria assim?"

As atrizes Paola Oliveira, Mariana Ximenes e Gloria Pires vestem suas criações: o desafio é alimentar o frenesi em torno das passarelas sem perder o foco nas vendas.

Seu estilo de vida, naturalmente, é transportado para as criações. Entusiasta da estética neominimalista, que prega um ar feminino ao clean dos anos 1990, foi buscar na Suécia elementos para o seu último desfile. Cortou o cordão com Tufi (que sempre elegeu temas brasileiros), misturou as formas orgânicas do design escandinavo com tecidos de texturas luxuosas e arrasou. "No começo pensava: será que Tufi faria assim? Depois percebi que ou me desligava um pouco dele ou ficaria paralisado." A coleção com vestidos de gaze de lã bordados, saias godês curtinhas de couro e tops de um paetê caríssimo (4 mil reais, o metro) foi considerada uma das melhores da temporada. "Eduardo ressuscitou o lado sexy da marca de um jeito cool", aponta Flavia Lafer, stylist que assinou o desfile - antes dela, quem cuidava disso era o diretor de arte Giovanni Bianco, famoso prima-dona da área. "Sou calmo, mas sei me colocar", diz o estilista, depois da saída de Bianco. Primoroso com o acabamento (o atestado de qualidade de qualquer marca que se preze), lembra-se de um show que deu com as costureiras da última vez que não seguiram suas recomendações com uma bainha. "Se precisar, rodo a baiana."

De Avaré para Milão

De família modesta, Pombal cresceu no interior paulista e trabalhou como contínuo para pagar os estudos - e as roupas de marca, de que sempre gostou. Quando usava sua jaqueta de couro com o silk da Fórum nas costas, nem imaginava o que viria. Chegou a servir o Exército, mas formou-se em educação artística. Foi desenhista de quadrinhos para Mauricio de Sousa. Até que recebeu um empurrão. A dona de uma loja de tecidos de sua cidade propôs pagar um curso de moda em troca de ele montar as vitrines de sua loja. Deu certo. Anos depois, largou o emprego em uma confecção para se aprimorar no ofício do bem-vestir em Milão. Hoje, além de criar roupas lindas, tem um guarda-roupa recheado de etiquetas como Lanvin, Paul Smith, Dior e, claro, Forum.

Com a palavra, Tufi

Como se sente vendo as marcas que criou a distância?
É difícil. Sempre trabalhei com paixão. Sofro ao
vê-las tomando outro rumo. Só posso dizer que sinto muita saudade.

Gostou da última coleção de Pombal?
Gostei bastante. Achei a melhor até agora. Depois do desfile, fiz questão de ligar para elogiar. Só que eu jamais faria assim. Não tem o meu DNA.

Você tem planos de voltar à cena?
Claro, está tudo planejado. Estou louco para voltar. Mas sou obrigado por contrato a ficar cinco anos afastado do mercado. Já se passaram três. Aguardem!

*preço pesquisado em abril de 2011



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